Jó 30 A21
1. Mas agora os mais novos do que eu zombam de mim, aqueles cujos pais eu teria posto com os cães do meu rebanho.
2. Pois para que me serviria a força das suas mãos, se o vigor já lhes desapareceu?
3. De míngua e fome emagrecem; andam roendo pelo deserto, lugar de ruína e desolação.
4. Apanham malvas junto ao matagal, e alimentam-se das raízes dos arbustos.
5. São expulsos do meio dos homens, que gritam atrás deles, como se estivessem atrás de um ladrão.
6. São obrigados a habitar nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da terra e dos penhascos.
7. Rugem entre os arbustos, ajuntam-se debaixo das urtigas.
8. São filhos de insensatos, filhos de gente sem nome; foram enxotados da terra.
9. Mas agora me tornei a sua canção e lhes sirvo de provérbio.
10. Eles me odeiam, afastam-se de mim, e não hesitam em me cuspir no rosto.
11. Deus desatou a minha corda e me humilhou; por isso, sacudiram de si o freio perante o meu rosto.
12. À direita, levanta-se gente vil; empurram os meus pés e fazem contra mim caminhos de destruição.
13. Estragam a minha vereda, promovem a minha calamidade, ninguém consegue detê-los.
14. Vêm como por uma grande brecha, precipitam-se por entre as ruínas.
15. Fiquei tomado de pavores, a minha honra é perseguida como pelo vento e a minha felicidade passou como uma nuvem.
16. Agora a minha alma se derrama dentro de mim; os dias da aflição tomaram conta de mim.
17. De noite me são traspassados os ossos, e o mal que me corrói não descansa.
18. A minha veste está desfigurada pela violência do mal; aperta-me como a gola da minha túnica.
19. Ele me lançou na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza.
20. Clamo a ti, e não me respondes; coloco-me em pé, e não atentas para mim.
21. Tu te tornaste cruel para comigo; com a força da tua mão me persegues.
22. Tu me levantas sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele e me dissolves na tempestade.
23. Pois eu sei que me levarás à morte, e ao lugar destinado a todos os viventes.
24. Por acaso quem está caindo não estende a mão? Não grita por socorro na sua calamidade?
25. Não chorava eu por causa daquele que estava aflito? Não se angustiava a minha alma pelo necessitado?
26. Mas, enquanto eu aguardava o bem, veio o mal; esperando a luz, veio a escuridão.
27. O meu interior se angustia e não descansa; os dias de aflição caem sobre mim.
28. Ando de luto sem a luz do sol, levanto-me na comunidade e grito por socorro.
29. Tornei-me irmão dos chacais, e companheiro das avestruzes.
30. A minha pele escurece e cai; os meus ossos estão queimados pelo calor.
31. Por isso, a minha harpa tornou-se em pranto, e a minha flauta, em voz dos que choram.